Sunday 6 April 2014


Que orquídeas despertaste em mim?
Que emoção, por ti um desvelo
no meu coração à míngua,
triste perdido destino de gelo?

Há muito tempo que não escrevo
a um homem vivo.
Todas as palavras parecem alheias.
A mulher que uma vez já era,
perdi-a não sei onde.
O amor (e tanto amor que tinha...!)
escasseou-se-me nas veias...
O que me resta para te dar?

O meu cérebro é um quadrado torto.
Um ângulo é redondo e os outros três
não existem.  O que me resta?
Tu não estás morto!
O que me resta para dar 

a um vivo, belo homem que tu és...?


Inwardly seeing the cruelty of yearning,
begging my life to give me a sake, -
why do I feel that my heart is burning?
How could we distant this paradise make?

Silently words in heart I still keep
for once I'll be treading in front of your face,
and then, I confess, in soul I will weep, -
when my eyes with your eyes will gently embrace.


Friday 4 April 2014

No meu ventre

O dia em que, tão difícil de sorrir,
respiro fundo para relembrar a Vida.
A ausência das palavras que sinto presentes,
a ansiedade pelo Desconhecido descoberto,
a hipocrisia de um traço torto
entre o saber e o querer saber.
Ah, Vida... Quando desço para a Terra,
a aterragem é turbulenta e o rumo morto.
O corpo move-se de modo ambíguo
em que um dos sentidos é não fazer sentido.
A nudez da minha consciência interfere
com o meu traje de postura petulante,
e despe-me até ao pudor da essência,
degolando severamente os pináculos
 da hipocrisia do traço torto
entre o saber e o querer saber.
...Nunca por esculpir o Fim...
A vida é estranha! Estranha!
Amar é chorar, o Céu é obeso,
e a Lua parece uma bola de Berlim.
Não sei se o Mundo é redondo, mas reconheço
nos meus ombros o seu peso.
Sorrir depois de tê-lo vivido é como
abotoar o traje depois
de anos a comer em excesso.
A náusea provocada é tê-lo vivido.
Tê-lo vivido é a náusea provocada.
Ter alma de poetisa é gerar o Universo;
é carregá-lo dentro do meu ventre
e sofrer de contrações para sempre
sem nunca dar à luz o nexo!
É despir o coração e ter sexo
com as serenatas lúcidas em verso
e pelos ritmos sôfregos compostos
beijar os lábios de mil rostos.

Monday 10 March 2014

Se estivesses aqui

Se estivesses aqui, fazíamos amor
neste quarto, nas borduras brancas
O mar lá fora, as tuas mãos nas minhas ancas
pele a pele num belo, nítido esplendor.

Cobria-te de beijos, se estivesses cá
e ondulavam os corpos em avidez envoltos
Eu de renda... cabelos soltos...
Quero-te, Amor... Quero-te já...

Esta distância que tento olvidar de dia,
à noite devagarinho ascende a lua
as saudades numa etérea fantasia...

Tens-me toda e de alma nua...
Enquanto estamos longe, entrego-me à poesia
em que sou tua e só tua.

Wednesday 15 January 2014

How can the rain with my passion start burning!
Changing the road can not cure my desire, -
my Dear, flames can not cease, they are just turning
from water to earth, from earth back to fire...

(From fire to tears, from tears to a pen,
from pen to the rhymes and to fire again.)

Thursday 9 January 2014

prostrados andámos
peixinho e eu
dei-lhe os pulmões
em troca de pele dourada