Wednesday 1 August 2012

As trevas e candeeiros

Ao anoitecer, quando me deito e escuto o silêncio das sombras amorfas no meu quarto, sem me encontrar presente nos gritos do espaço vazio que costumo ignorar, testemunho uma batalha ténue dos meus pensamentos e sentidos, das trevas e candeeiros.

Vislumbro, ao longe, no horizonte bem vivo, um semblante que chama o meu nome. Nem eu sei qual era o nome com que vim para esta Terra, já que o meu nome não é o nome, mas sim a emoção da pessoa, quando o chama. Absorvo essa emoção e com ela identifico-me, sabendo cada vez menos quem sou. E, neste horizonte bem vivo, o semblante que chama o meu nome, é apenas um espelho que se resplandece numa mistura de trevas e candeeiros, ah, este semblante que chama o meu nome...
O semblante que acabou por não ter os braços nem o tronco, nem sequer a voz para me chamar, e eu, deslumbrada pelo horizonte bem vivo, meia-doida e bem viva também, acreditei que era o homem da desaprendizagem do tempo, do estio duradouro, chamando o meu nome para que nós fôssemos bem vivos os dois, e, juntos, ainda mais vivos do que o horizonte bem vivo.

Quem é que aguentaria essa dor incansável de tudo ser o mesmo menos a constância de nada ser diferente...
Este meu quarto, o silêncio das sombras amorfas, este horizonte bem vivo que chama o meu nome... Tudo permanece o mesmo, só Ele é que nunca mais vem; eu disse-lhe “adeus” por nunca me ter cumprimentado, como o sol se despediria, se todos deixassem, como Ele, de amar.