Friday 4 April 2014

No meu ventre

O dia em que, tão difícil de sorrir,
respiro fundo para relembrar a Vida.
A ausência das palavras que sinto presentes,
a ansiedade pelo Desconhecido descoberto,
a hipocrisia de um traço torto
entre o saber e o querer saber.
Ah, Vida... Quando desço para a Terra,
a aterragem é turbulenta e o rumo morto.
O corpo move-se de modo ambíguo
em que um dos sentidos é não fazer sentido.
A nudez da minha consciência interfere
com o meu traje de postura petulante,
e despe-me até ao pudor da essência,
degolando severamente os pináculos
 da hipocrisia do traço torto
entre o saber e o querer saber.
...Nunca por esculpir o Fim...
A vida é estranha! Estranha!
Amar é chorar, o Céu é obeso,
e a Lua parece uma bola de Berlim.
Não sei se o Mundo é redondo, mas reconheço
nos meus ombros o seu peso.
Sorrir depois de tê-lo vivido é como
abotoar o traje depois
de anos a comer em excesso.
A náusea provocada é tê-lo vivido.
Tê-lo vivido é a náusea provocada.
Ter alma de poetisa é gerar o Universo;
é carregá-lo dentro do meu ventre
e sofrer de contrações para sempre
sem nunca dar à luz o nexo!
É despir o coração e ter sexo
com as serenatas lúcidas em verso
e pelos ritmos sôfregos compostos
beijar os lábios de mil rostos.

1 comment:

Rufino said...

É muito bonito o poema, apesar do "rumo morto" e a dúvida sobre "O que hei de fazer com o berço?".