Ao anoitecer, quando me deito e escuto o silêncio das sombras amorfas
no meu quarto, sem me encontrar presente nos gritos do espaço vazio que
costumo ignorar, testemunho uma batalha ténue dos meus pensamentos e
sentidos, das trevas e candeeiros.
Vislumbro, ao longe, no
horizonte bem vivo, um semblante que chama o meu nome. Nem eu sei qual
era o nome com que vim para esta Terra, já que o meu nome não é o nome,
mas sim a emoção da pessoa, quando o chama. Absorvo essa emoção e com
ela identifico-me, sabendo cada vez menos quem sou. E, neste horizonte
bem vivo, o semblante que chama o meu nome, é apenas um espelho que se
resplandece numa mistura de trevas e candeeiros, ah, este semblante que
chama o meu nome...
O semblante que acabou por não ter os braços
nem o tronco, nem sequer a voz para me chamar, e eu, deslumbrada pelo
horizonte bem vivo, meia-doida e bem viva também, acreditei que era o
homem da desaprendizagem do tempo, do estio duradouro, chamando o meu
nome para que nós fôssemos bem vivos os dois, e, juntos, ainda mais
vivos do que o horizonte bem vivo.
Quem é que aguentaria essa dor incansável de tudo ser o mesmo menos a constância de nada ser diferente...
Este
meu quarto, o silêncio das sombras amorfas, este horizonte bem vivo que
chama o meu nome... Tudo permanece o mesmo, só Ele é que nunca mais
vem; eu disse-lhe “adeus” por nunca me ter cumprimentado, como o sol se
despediria, se todos deixassem, como Ele, de amar.
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